sexta-feira, 30 de novembro de 2007

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Nesse dia fazia calor, ou eu que estava correndo, correndo contra o tempo, talvez os dois, não consigo lembrar, minhas recordações são todas figurativas e eu não lembro de ter imaginado o sol me derretendo ou um relógio caindo em cima de mim, ou coisa do tipo, enfim... Eu estava realmente atrasada, e toda minha agonia se manifestava claramente nas minhas roupas e no meu não-penteado. Subi no ônibus; códigos na mão, leis na cabeça, meia-passagem, celular tocando, partida do automóvel...

-"Fudeu!" (Pensei no exato momento que caí dentro naquele redemoinho).

Quando realcancei a percepção olhei rapidamente ou fixamente no fundo daquela máquina coletiva... Um semi-deus, um quase homem grego! Óculos, pasta no colo... mais inteligente do que forte. -Ateniense! E rindo... Aquele olhar escondido pelos fios que caíam no seu rosto pálido.-Teseu - o conquistador!

-Ah! As associações são a chave da lembrança! E eu buscava mais uma forma significativa de linguagem ou aproximação (Ri de volta).

-Tudo bem?! (Ele perguntou revelando sua idade com o aparelho que usava nos dentes).

-"Minhas costas, Que tal uma massagem? A-haha" -Tudo bem, obrigada!

No máximo 16 anos, um crime contra a Nação, contra a moral dos bons costumes. Seria presa, eu com meus 23 anos acusada por sedução de menores... No julgamento eu diria que ele riu pra mim primeiro, Que ele me seduziu , Que ele é o culpado! Quem mandou ele ser assim. Tão grego. -E sua idade nunca atrapalhou em nada, Senhor Juiz, ele já nasceu sabendo (Hahaha), e mais; eu me prevenia, ele não está grávido!

Eu ironizava minha desgraça e com deboches à raça humana tentava amenizar minha condição, eu não queria me encaixar no Sistema, não ansiava carga de civilidade, muito menos moralidade. Na cidade grande eu buscava resquícios de selvageria! Era isso que fazíamos! Pulávamos de árvores com cipó, essas coisas... Sabia que não seria absolvida e que ele iria embora, o mandariam a mais uma Guerra Médica...
-Thainara Prazeres-


domingo, 25 de novembro de 2007


Assim ele se transfigura pra mim, tão bonito e argentino. Assim, tão lindo. Por que foges de mim nessa fantasia? A fantasia que você escolheu para me conquistar, me seduzir e esquecer. Esquecer que você existe. Esquecer da sua presença ausente. Do seu sorriso estático, do seu nariz avantajado e seus cabelos sedosos.
Sua Asa quebrou, você não é mais tão leve quanto pena (ou pensa) e não pesa tanto mais assim. Não em mim.
Mas por que se veste assim? Anjo da Morte? Por que se veste assim? Tão bonito e tão argentino. Tão distinto e distante. Tão longe...
Tinha esquecido das minhas idealizações, do meu platonismo, do meu amor ao sonho, por isso quase esqueci de você. Meu anjo. Ausente, distante e presente. No mar, principalmente. Nas lembranças... Quentes. “Eu morri numa ‘noite’ de verão”.
Esqueci que esperar aquele anjo que me prometia a vida, era aguardar pela morte. E que nada de concreto me trazia, nada de palpável, nada visível. Como sempre... Algo voando em minhas mãos. Bem na minha frente. Assim como você, anjo da morte, assim como você: voando e ausente.